Aqui está o meu cantinho dos desarranjos mentais. Lufadas de merda que me passam pela cabeça! Umas mais sérias que outras mas isso não interessa nada! São apenas mais uns textos na net. Enjoy!

terça-feira, maio 09, 2006

Vida a dois!


Gostar de uma pessoa pode ser complicado. Nunca repararam nisso!?! Há tantas regras que têm de ser cumpridas que fazem o nosso código civil parecer um livrito de bolso e para chegar a essas regras (sim porque para cada pessoa há um conjunto de regras diferentes) é preciso uma feroz negociação que implica um consenso em que nunca ficam os dois a ganhar e por vezes ficam os dois a perder. Todos sabem que uma relação é feita de cedências das nossas manias de solteiro para um bem comum. Há coisas que fazíamos que nunca mais vamos voltar a fazer, e mesmo que um dia voltemos a fazê-las, já não vai ser a mesma coisa, porque, a outra parte deste contrato, já nos demonstrou como aquilo é parvo e idiota e quando pensamos que aquilo nos vai dar um grande gozo sentimo-nos parvos e idiotas por estarmos a voltar a fazê-las. Com os meus amigalhaços parecia sempre divertido quando íamos para os cafés frequentados por tias presunçosas fazer um cagaçal desgraçado com conversas impróprias o que resultava inevitavelmente num abandono generalizado da clientela à nossa volta. Quando contamos estas histórias hilariantes à pessoa com quem estamos, com aquele sorriso gigante a querer dizer “tem piada, não tem?”, levamos com um olhar indiferente e à medida que nos tornamos chatos a contar aquilo com mais pormenores sórdidos, na esperança que a nossa cara metade partilhe a nossa excitação quase à força, num monólogo desesperado que no fim provoca um franzir de testa e a pergunta.
- Porque é que faziam isso?
- Porque tem piada
- Não, é simplesmente parvo. Gostavas que incomodassem quando tomas o café?
- Mas era giro
- Tá bem – e olha para o lado
Um dia vais sair com os teus amigos e decidem ir importunar tiazorras para um qualquer café in da linha e começas-te a sentir estúpido, e á medida que aquilo continua, ficas calado, não achas piada nenhuma àquilo e começas a olhar para as pessoas e a pensar “desculpem por vos estar a estragar o lanche”.
A verdade é que nos moldamos à pessoa e à relação, e nunca conseguimos voltar à forma original, nem que seja apenas na duração de uma noitada com os amigos.
A própria palavra “compromisso” é uma palavra pesada e não dá uma conotação muito feliz para aquilo que significa. Acho que devia ser uma palavra curta e alegre, existem muitas destas palavras, por exemplo “gelado”, “férias”, “giro” “dança”, são palavras alegres e divertidas e que dá gozo dizer. Soletrem lá “com-pro-mi-sso” é longa e chata de dizer, mas o seu significado não tem que ser necessariamente mau, por exemplo, “clister” é uma palavra gira mas aquilo a que se dá o nome de clister não é mesmo nada divertido.
A verdade é que quando encontramos a mulher da nossa vida (e como nós homens somos infantis e patetas) achamos que temos que nos modificar radicalmente para agradar a essa pessoa. Ora, isto logo à partida é um mau começo negocial. É o mesmo que começar um jogo de cartas com elas viradas ao contrário. Quando começamos nós a tentar pedir uma modificaçãozita mais profunda, a coisa pode não correr tão bem. É tudo uma questão de ficar em superioridade quando se começa este “negócio”, e quem está por cima não quer perder a posição inicial, no fim de discussões, já na fase do fim do encanto inicial em que já se está encantado de vez, a normalidade e um equilíbrio mais ou menos oscilante volta ao seio do casal.
Tornamo-nos subversivos, aquelas coisas que fazemos normalmente com os amigos tornam-se tabu e tentas que elas nunca descubram que as fazes. O melhor exemplo é a retenção de gazes intestinais. Quando estamos no meio dos amigalhaços não existe nada como um peido para gerar a gargalhada total e gerar uns momentos malcheirosos de boa disposição. Por vezes até gera uma competição feroz para conseguir o mais sonoro. À frente da nossa mais-que-tudo isso não pode acontecer, pois pode-se correr o risco de ela passar de mais-que-tudo, àquela-que-te-deixou-e-contou-às-amigas-todas-que-és-um-grande-porco. A solução para uma tarde inteira de contenção dos referidos gases, é depois do beijo de despedida no carro e à medida que ela se afasta em direcção à porta de casa, a libertação nauseabunda e aliviante daquele gás que se acumula há horas. É sempre giro quando elas olham para trás para dar um último aceno de adeus e pensam como estamos felizes por termos estado com ela, na verdade, naquele momento a felicidade é mesmo de termos mandado um valente traque que estávamos a prender há 5 horas, é a felicidade daquele momento de libertação. Isto não quer dizer que não tenhamos adorado passar aquele dia com a nossa cara metade, naquele momento só não estamos a pensar muito nisso, estamos só a apreciar aquele momento com um “ ahhhh que bom” seguido dum “é lá este cheira mesmo mal”, abrimos os vidros e vamos embora.
Existem no entanto outras ocasiões mais sensíveis, em que qualquer passo em falso pode tornar-se numa valente dor de cabeça e num sem fim de explicações. É preciso ter tacto prá coisa. Há outras, ainda, em que é inevitável uma certa crispação, o máximo que se pode fazer é minimizar as consequências.
Nunca vos aconteceu numa daquelas conversas em que começam logo a dizer “mas tens que ser sincero”, seguido da proposta de elencar as qualidades e os defeitos da contraparte, em que enchem a pessoa de qualidades e quando dizem um defeitozinho insignificante, como por exemplo, “és um bocado chata quando vais às compras, ficas um bocado paranóica com aquilo tudo”, a pessoa fica o dia todo amuada, a pedir justificações agressivamente e tudo o que uma pessoa pensa é “e então as 1500 qualidades que te dei!?!? não chegam para ficares feliz?!?! o único defeito é o suficiente para destruir todas aquelas qualidades e dar origem a este filme todo!!”. Se tentas fugir a estas conversas ainda é pior. Se ela te diz “O que achas de mim?” E tu respondes “Então e que tal um geladinho na esplanada?”. Começa logo o reportório do “sou assim tão má que até tens medo de falar”, por isso já sabes, enfrenta o assunto como um homem e aguenta-te à bronca.
Há coisas que à partida, quando começas uma relação, se tornam verdades absolutas: elas têm sempre razão (mesmo que não tenham, mais vale dizer que sim, contrariar só dá problemas); a maneira delas fazerem as coisas é sempre melhor que a tua (as mulheres às vezes são como os patrões e o modo de actuar é o mesmo. dizer que sim e fazer as coisas à tua maneira na mesma); vais ter que pedir desculpas mesmo que não saibas porque é que as estás a pedir (as mulheres têm coisas que nunca vais compreender. Tentar, é escusado e pode dar-te problemas. Se por acaso deixares o ketchup fora do frigorifico e ela te acusar de seres um insensível, não tentes compreender a relação ketchup-insensivel, guarda rapidamente o ketchup, abraça-a a seguir e simplesmente pede-lhe desculpa); as amigas dela sabem da tua vida sexual como talvez tu nunca venhas a saber (não penses muito nisso quando estás com elas, saber que elas sabem dos teus percalços, que a vida sexual traz sempre, e que sabem melhor do que alguma vez a tua parceira te vai contar, do que ela acha de ti, pode tornar-te paranóico. Aceita com naturalidade que falam de ti e até, eventualmente, para não dizer provavelmente, já estiveram todas a gozar contigo sobre algo de índole sexual num serão feminino qualquer.).
É sempre bom sabermos lidar com estas verdades absolutas e sabermo-nos comportar à altura do desafio, jogando com as regras impostas por este jogo amoroso. A partilha de intimidades e de uma vida, choca sempre com a individualidade de cada um, é sempre importante aprender truques e ter um certo jogo de rins para esta longa jornada correr bem e nunca ouvires o famoso “Sabes que gosto muito de ti, não sabes? Mas….”